segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Tempos Modernos ou Quando a Pulseira Arrebentou.

Tinha esse amigo. E esse amigo tinha um relógio. Um curioso relógio. Eu também tinha um relógio. A minha namorada, irmã dele, também tinha um. A namorada dele também tinha. O meu irmão também. Mas nenhum era igual o dele.

Lembro que, quando eu o conheci, há muito tempo atrás em uma galáxia muito distante, ele já usava relógio. Eu não. Aprendi com ele. Relógio vicia, sério. Depois que eu comecei a usar, não parei mais. E influenciei outras pessoas, também.

O curioso é que depois que a gente começa a usar relógio, parece que o tempo já não é o bastante. Primeiro paramos de brincar com os carrinhos porque precisamos ir pra escola. Então temos que abrir mão das partidas de futebol com o time da outra rua pra fazer a lição. Depois precisamos trabalhar. E o tempo vai ficando cada vez mais curto.

Mas não pra esse amigo. Não para o relógio dele. Era um relógio curioso. Era um amigo curioso. Ele sempre tinha tempo pra tudo. Conseguia se organizar de um jeito invejável. Seria, o grande segredo dele, uma agenda? Provável, mas não. O segredo era o relógio.

Ah, o relógio. Era um relógio curioso. Ele nunca dava as horas exatas. Era sempre "seis e alguma coisa" ou "alguns minutos para às 11". Me irritei com ele, várias vezes. Ao estar atrasado para um compromisso, perguntava as horas e ele dizia "Ah, são quatro e pouco". Nunca sabia quanto era o pouco. Poderia ser 16:07, ou 16:26 ou até 16:59. Mas ele não estava errado. Era "quatro e pouco". Engraçado que eu sempre chegava na hora, se perguntasse as horas para ele.

Engraçado, também, o jeito que ele tratava as horas. Sempre de relógio mas, de algum modo, o tempo para ele era como um belo prato de merda. Trinta minutos? Bah, que nada. Daqui a pouco passa. Ah, pra que querer três dias pra montar um trabalho? Esse descaso era incrível.

Então um dia eu perguntei pra ele porquê ele nunca se atrasava pra nada. Ele disse que não se preocupava com o horário. Partia quando achava que deveria partir. Afinal, horas são medidas estúpidas criadas pelo homem. Ele poderia fazer as próprias horas. A hora que ele chegasse no trabalho era a hora de trabalhar.

Então eu parei de usar relógio.

No dia seguinte, fui demitido por chegar atrasado.

2 comentários:

Clementine disse...

*O*
HAHAHAHA
Adorei.
Sou obcecada por horas. No momento, por exemplo, estou olhando para o relógio do PC, são 02:56. Quando eu terminar de digitar esse comentário, não sei quantos minutos já terão passado. Mas o importante é que eles passem, que sempre passem.

Anônimo disse...

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