Não, não sonhei com O Dia Em Que a Terra Parou. E nem é aquele sonho em que eu leio uma resenha que diz que meu álbum é tão foda quanto qualquer álbum dos Pixies. É só o sonho mais drogado que eu já tive em toda a minha vida, e como eu ando sem nada pra escrever, vai ele mesmo.
Tudo começa comigo indo pra escola. Aqui muitos podem dizer que foi um pesadelo, não um sonho, mas não chega a ser pesadelo porque eu nem chego na escola.
Beleza, tudo normal. Tirando a parte que eu fui andando pra escola.
Muitos podem não entender, então vou explicar. Minha escola fica razoavelmente longe da minha casa. O lance é que o caminho de casa pra escola é basicamente uma rua. Passando perto da minha casa, é uma avenida que corta uns dois bairros da cidade. Daí ela faz uma curva e muda de nome, e corta mais uns dois bairros. Daí desce um morro, muda de nome de novo, e corta mais um bairro. O ônibus que eu pego três vezes por semana às 12:20 passa por ela toda, e ele faz isso em uns 20 minutos. Mas, se eu fizer o mesmo caminho a pé, o buraco é mais embaixo.
Enfim. A loucura começa aí. A troco de que eu iria para a escola a pé, pelo menos se eu quisesse chegar no horário. E a pior parte é que tinha um monte de gente junto comigo, mas muita gente, e de todos eles eu só conhecia três pessoas. Vou dar seus nomes, Léo, Japa e Gabriel.
Para efeito de movimento estudantil, todo o bolo estava com o uniforme da escola. Beleza, começamos a andar. Durante o caminho, o Japa estava se comportando de uma maneira estranha. Ok, quem o conhece sabe que o seu modo de agir não é lá muito normal (livro no Passeio Público que o diga, mas isso eu conto outra hora), mas ele estava excessivamente estranho. Parecia que, em cinco minutos, tinha usado mais drogas do que o Syd Barrett, o Jefferson Airplane, os Doors e o Love já usaram em toda a história.
Andamos bem pouco, e antes da primeira mudança de nome da rua, começou a chover. Todo mundo saiu correndo, cada um pra um lado, e o pior é que a chuva nem era tão forte. Esse povinho de açúcar, vou te contar...
Beleza. Eu corri igual um desesperado e cheguei em um terminal. A beleza da coisa é que pra chegar em um terminal eu teria que andar muito mais do que pra chegar em um lugar pra me esconder da chuva, mas quem disse que sonho precisa fazer sentido, né. Nesse terminal, junto comigo, havia uma menina que estava no grupo.
Meu canário belga, a guria era tão linda que chegava a ser feia. Beleza, eu não sabia quem era, mas vamos conversar, né.
Ok, eu fui conversar com ela e a menina era bem simpática. Fomos até um ponto do terminal e sentamos pra esperar o ônibus. Tá que a gente entrou no terminal sem pagar, mas enfim. Outra coisa bizarro era o ponto. Quem conhece as estações tubo de Curitiba sabe que já não são as coisas mais normais do mundo (basicamente é um tubo que você entra pra esperar o ônibus), e esse ponto no terminal era como o tubo, mas ele não estava deitado. Estava em pé. Estava mais pra parada de ônibus espacial.
Dentro do tubo havia um relógio e um banco, e atrás do banco tinha grama. Nós sentamos ali e continuamos conversando, até que ela disse "Ei, quer ver o que deixou o Japa maluco daquele jeito?". Eu disse "Sim", ela puxou um desodorante da mala e espirrou no meu rosto.
Eu comecei a delirar na hora. Nunca usei drogas e acho isso a coisa mais retardada do mundo, e o mais próximo que eu chego dessas viagens é ouvir Pink Floyd, mas acredito que mesmo que eu fosse o cara mais chapado do mundo, não saberia descrever como é se drogar em um sonho drogado.
Enfim, eu senti a menina pegando no meu braço e ouvi uma voz lá longe dizendo "Rodrigo, o ônibus chegou". Nós embarcamos e dentro dele estava o Léo. Ele disse "Ei, a gente precisa achar o Gabriel", e a menina respondeu "Esse ônibus aqui passa no Largo da Ordem, talvez a gente encontre ele lá". Então o ônibus saiu e a gente chegou no Largo da Ordem.
Ainda chovia, mais ou menos na mesma intensidade do começo do sonho. O problema é que existe a "estação Largo da Ordem. Ao embarcar no Ligeirinho, aguarde sempre o desembarque", só que não tinha nada haver com a estação Largo da Ordem real. Primeiro que o tubo estava bem na frente da Igreja, lá onde os carros não passam. Então aí está uma. A outra é que aquele não era o Largo da Ordem. Quer dizer, ser ele até era, afinal, estava todo mundo dizendo que era o Largo da Ordem, mas estava bem diferente do que eu me lembrava. Enfim.
O Gabriel estava lá. Nós chegamos perto dele pra falar e ele disse "É melhor a gente ir rápido, ou vamos nos atrasar". Então o sonho mudou.
Estava eu e meu primo andando em uma rua. Não sei dizer se o primo em questão é o Léo ou o Júnior, que não apareceu nessa história até o presente momento, porquê em determinado momento ele era o Júnior, e em outro momento era o Léo. De qualquer forma, a rua eu reconheci na hora, ela fica em São Mateus do Sul. Era uma subida, e o tempo estava frio, cheio de nuvens e tal. Estávamos subindo essa rua, e então eu me toquei que era um dos caminhos que eu poderia pegar para chegar na escola que eu frequentava na época que morei em São Mateus do Sul. O problema é que eu estava com o uniforme da atual escola.
Mas daí eu me toquei que eu não estava indo lá estudar, só visitar. Beleza, quando eu cheguei na escola, do outro lado da rua, estava um bando de gente. Nesse momento, o meu primo, que era o Júnior, disse "Aí estão eles, Rodrigues" (não, meu sobrenome não é Rodrigues, ele é o único que me chama assim), e eu fui até o bando de gente. Reconheci muitos ex-colegas que estudaram comigo naquela escola, pouquissímos dos quais ainda mantenho um quase inexistente contato.
A pior parte é que de todas as pessoas que estavam ali, desde a menina por que eu tinha uma (grande) queda, até os caras que eu odiava, até as pessoas com quem eu nunca falei e alguns amigos que fiz, o melhor amigo que eu tinha na época não estava. Foi meio triste não encontrá-lo lá.
Então eu entro na sala com eles. O bizarro é que eu sei que a maioria nem estuda mais naquela escola, alguns reprovaram de ano e outros eu não faço a mínima idéia de que fim levou. Entramos na sala e eu assisti as aulas com eles. Depois fui embora.
No caminho de volta, meu primo, dessa vez o Léo, e eu andamos tranquilamente, ainda em São Mateus, pegando um dos vários caminhos possíveis pra voltar pra casa em que eu morava lá. (o legal era que a minha casa ficava em uma parte baixa da cidade, e a escola ficava na parte mais alta. Teve uma época em que eu ia de bicicleta pra escola, e na hora da volta me largava naquelas descidas e quase era atropelado três vezes por dia).
Estávamos a pé. Acho que é porque nos últimos meses que fiquei lá eu vendi minha bicicleta, mas também pode ser que é pelo Léo não saber andar de bicicleta, então seria bizarro. Tá, mais uma anormalidade não faria mal, mas sei lá. De qualquer modo, estávamos a pé. Em determinado momento ele saiu correndo na frente. Eu pensei "Que cara idiota, ele não conhece a cidade. Vai correr pra quê?". Daí eu ouvi um "Rodrigo!" e o rosto do meu pai apareceu na minha frente.
Ele estava indo pra trabalho e precisava me deixar acordado, pra não perder a hora.